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Críticas

Babygirl (2024)

Um estudo de desejo e poder, entre sensualidade e complexidade

Por Valentina Almeida @valentilhas

Babygirl-review

Babygirl, dirigido por Halina Reijn, se propõe a explorar as dinâmicas de poder e desejo de uma maneira bem provocativa, centrada em uma perspectiva feminina. A história segue Romy (Nicole Kidman), uma mulher de meia-idade que embarca em um relacionamento dominador/submisso com Samuel (Harris Dickinson), um colega mais jovem. O filme, embora tenha suas falhas, oferece algumas reflexões interessantes sobre sexualidade e poder, principalmente quando considerado o cenário cultural atual.

O filme se destaca em momentos como as cenas entre Kidman e Dickinson, que exploram a dinâmica de poder e desejo com confiança, comunicação e consentimento, enquanto tentam entender a dinâmica complicada entre seus personagens. A sensualidade e a complexidade são notáveis, especialmente na cena de dança ao som de “Father Figure” de George Michael. No entanto, o roteiro falha em manter um ritmo constante e, em alguns pontos, se torna previsível e genérico, com personagens como o marido de Romy, Jacob, sendo pouco desenvolvidos (que desperdício de Antonio Banderas). Mesmo assim, o filme oferece uma reflexão interessante sobre a sexualidade feminina e a maneira como as mulheres são muitas vezes vistas pelos olhos dos homens.

Nicole Kidman dá uma performance profunda como Romy, explorando a vulnerabilidade e a complexidade de sua busca por controle e entrega. Sua atuação transmite a tensão entre o desejo de dominação e a vontade de se render, tornando a personagem muito mais do que uma simples busca por prazer. Mas quem me surpreendeu mesmo foi Harris Dickinson, que me impressiona desde Triângulo da Tristeza (2022). Aqui ele se destaca como Samuel, trazendo uma performance de insegurança que enriquece ainda mais a dinâmica entre os dois. Ele comanda a tela de forma impressionante, com um brilho nos olhos e um sorriso que reconhece o quão absurdo é o personagem que ele precisa ser para atender aos desejos de Romy. Embora Samuel não tenha um histórico detalhado, Dickinson consegue entregar muito com o que o filme oferece.

A trilha sonora de Cristobal Tapia de Veer, que também trabalhou em The White Lotus, é um ponto positivo, ajudando a criar uma atmosfera sensual e tensa. A cinematografia é boa, mas o ritmo mais lento em alguns momentos pode afastar alguns espectadores.

Sobre o filme em si? Ele cresceu em mim à medida que o tempo passava. Não traz novidades sobre o desejo feminino, mas quando o risco e o tabu são introduzidos, a trama se torna mais interessante, explorando as raízes desse desejo sem recorrer aos clichês de trauma infantil. Embora seja um filme sexy em vários momentos, ele se destaca mais como um estudo de personagem, apesar de algumas repetições no enredo.

No fim das contas, Babygirl não é o filme mais revolucionário, mas é uma tentativa interessante de olhar para a sexualidade feminina de uma forma mais complexa e menos superficial. Mesmo com alguns tropeços no caminho, o filme se destaca pelas ótimas performances de Kidman e Dickinson e por conseguir trazer à tona temas que, apesar de não serem totalmente novos, são discutidos de uma maneira mais madura e reflexiva. É um filme que vale a pena assistir e debater, especialmente no momento em que vivemos, em que a sexualidade e o empoderamento feminino estão ganhando cada vez mais espaço no cinema.

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