Hora da Estrela

Críticas Hora da Estrela (1985) Por Ricardo Rodrigues Se você acha que não conhece nenhum filme nacional com jovens desajustadas e que sonham em melhorar de vida, você precisa assistir esse filme. A hora da estrela é um filme homônimo do livro de Clarice Lispector, publicado em 1977 o livro conta a história de Macabéa, uma datilógrafa que migra para o Rio de Janeiro com seu dia a dia narrado por um escritor fictício. Entretanto, no longa-metragem sofreu algumas adaptações da obra literária: não vemos essa narração, a história se desenrola sobre a perspectiva da Macabéa e nós acompanhamos os eventos gradualmente, além do fato que Macabéa se muda para São Paulo. Cabe ressaltar que esse filme foi o primeiro da diretora Suzana Amaral, que com maestria garante uma direção muito eficiente principalmente com a protagonista: Macabéa (interpretada por Marcélia Cartaxo) nos faz rir, chorar, se emocionar e com sua vida simples e repleta de questionamentos… Dá vontade de abraçar Macabéa, de colocar dentro de um potinho e de proteger de todos os perigos… a atuação da Fernanda Montenegro (Madame Carlota) é breve, mas ao mesmo tempo impactante. Me lembrou um pouco o filme Frances Há, onde ambas as obras têm mulheres quebradas que estão tentando sobreviver no meio do caos com leveza, e o espectador acompanha os sonhos, dificuldades e anseios das protagonistas. Uma curiosidade sobre o filme: em maio de 2024, os cinemas brasileiros (re)exibiram a obra restaurada em 4K, e a Associação Brasileira de Críticos de Cinema nomeou “a hora da estrela” como um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos, se você ficou interessado e deseja assistir a obra, está disponível integralmente no YouTube (em uma qualidade mediana de imagem, pois trata-se de um filme de 85). O Projeto A Sala afirma que todos os textos do site são de responsabilidade do próprio autor.
Pioneiras do Cinema: A Revolução Feminina nas Telas

Críticas Pioneiras do Cinema: A Revolução Feminina nas Telas Por Danielle Delaneli Alice Guy Blaché, a mãe do cinema foi uma verdadeira pioneira na indústria cinematográfica. Nascida em 1873, na França, ela começou sua carreira como assistente de produção e rapidamente se destacou como diretora. Em 1896, ela se tornou a primeira mulher a dirigir um filme, “La Fée aux Choux” (A Fada dos Repolhos). Alice não apenas dirigiu, mas também produziu e escreveu roteiros, criando uma vasta obra que abrange mais de 1.000 filmes. Reconhecida como cineasta e roteirista de filmes de ficção, é considerada uma visionária pelo seu uso inovador do cronofone da Gaumont na sincronização de som, na colorização, na formação de elencos interraciais e na aplicação de efeitos especiais. Seu trabalho é fundamental para entender a evolução do cinema, especialmente no que diz respeito à representação feminina nas telas. Florence Lawrence, nascida em 1886, foi uma das primeiras estrelas de cinema e uma das primeiras a ter seu nome creditado nos filmes. Ela começou sua carreira no início do século XX e rapidamente se tornou uma figura popular nas produções da época. Lawrence também inovou ao se tornar uma das primeiras atrizes a negociar contratos e promover sua imagem, ajudando a moldar o papel das estrelas no cinema. Maya Deren, nascida em 1917, é frequentemente lembrada como uma das cineastas mais influentes do cinema experimental. Seu trabalho na década de 1940, especialmente em filmes como “Meshes of the Afternoon”, desafiou as convenções narrativas tradicionais e explorou temas como sonho e identidade. Deren não apenas criou filmes inovadores, mas também escreveu sobre teoria cinematográfica, influenciando gerações futuras de cineastas. Hedy Lamarr foi uma atriz e inventora austríaca, famosa não apenas por sua beleza e talento no cinema, mas também por suas contribuições para a tecnologia. O que muitas pessoas não sabem é que Hedy, junto com o compositor George Antheil, desenvolveu um sistema de comunicação por espectro espalhado durante a Segunda Guerra Mundial, que ajudou a proteger as transmissões de torpedos. Essa tecnologia é uma base importante para as comunicações sem fio modernas, como Wi-Fi e Bluetooth! Por fim, Agnès Varda, nascida em 1928, é um ícone do cinema francês e uma das principais figuras da Nouvelle Vague. Sua abordagem única combinava documentário e ficção, explorando temas sociais e feministas com sensibilidade e profundidade. Filmes como “Cléo de 5 à 7” destacam seu talento em contar histórias que capturam a condição humana de maneira poética. Essas mulheres não apenas abriram caminho para futuras cineastas, mas também enriqueceram o cinema com suas visões únicas e criativas. Cada uma delas deixou um legado duradouro que continua a inspirar novas gerações. Se quiser saber mais sobre alguma delas ou discutir suas obras específicas, estou aqui para ajudar! O Projeto A Sala afirma que todos os textos do site são de responsabilidade do próprio autor.
Final Girls

Críticas Final Girls Por Danielle Delaneli As “Final Girls” são uma das figuras mais fascinantes e complexas do cinema de terror, representando não apenas a luta pela sobrevivência, mas também uma crítica social às normas de gênero e à violência. Ao longo das décadas, essas personagens se tornaram símbolos de empoderamento feminino, desafiando estereótipos e oferecendo um novo olhar sobre o papel das mulheres nas narrativas de terror. As “Final Girls” são personagens icônicas do cinema de terror que representam a luta pela sobrevivência e uma crítica às normas de gênero. O termo foi popularizado pela crítica Carol J. Clover em seu livro “Men, Women and Chain Saws” (1992), onde ela analisa como essas mulheres se destacam entre as vítimas e se tornam as últimas sobreviventes. Inicialmente inocentes ou vulneráveis, elas passam por transformações que as capacitam a enfrentar os antagonistas, desafiando estereótipos femininos. Esse fenômeno surgiu com o gênero slasher nos anos 70 e 80, com personagens como Laurie Strode em Halloween e Nancy Thompson em A Nightmare on Elm Street , que simbolizam resistência e força. A presença das Final Girls provoca reflexões sobre autonomia e poder, revelando que, mesmo em situações extremas, as mulheres podem ser heroínas em suas próprias histórias. Laurie Strode, de Halloween, é um dos exemplos mais emblemáticos. Sua transformação de uma adolescente inocente em uma sobrevivente forte e determinada reflete a capacidade das mulheres de enfrentarem o medo e a adversidade. Laurie não é apenas uma vítima; ela é uma lutadora que se recusa a ser definida pelo terror que a cerca. A forma como ela enfrenta Michael Myers se tornou um modelo para outras Final Girls, estabelecendo um padrão que mistura vulnerabilidade e força. Por outro lado, Nancy Thompson, de A Nightmare on Elm Street, traz à tona a ideia de que a verdadeira luta contra o mal muitas vezes ocorre internamente. Nancy não apenas combate Freddy Krueger em seus sonhos, mas também enfrenta suas próprias inseguranças e medos. Essa dualidade faz dela uma personagem ainda mais rica, mostrando que as batalhas mais difíceis são aquelas que travamos dentro de nós mesmos. Ripley, de Alien, transcende o arquétipo da Final Girl tradicional. Em vez de ser apenas uma sobrevivente, Ripley é uma líder que assume o controle da situação em meio ao horror. Sua presença feminina em um ambiente dominado por homens desafia as expectativas da época e redefine o que significa ser uma heroína no cinema. Ripley não é apenas uma sobrevivente; ela é um ícone de força e resiliência. Sally Hardesty, de The Texas Chain Saw Massacre, representa uma abordagem mais visceral do terror. Sua luta desesperada pela sobrevivência contra Leatherface é brutal e intensa, refletindo as realidades sombrias do horror psicológico. Sally se torna um símbolo da resistência diante da violência extrema, mostrando como as mulheres podem ser tanto vítimas quanto lutadoras. Cheryl Williams em “The Evil Dead” (1981), interpretada por Ellen Sandweiss, é uma representação da luta feminina contra a vulnerabilidade em um cenário de horror. Sua transformação de vítima a sobrevivente destaca a resiliência das mulheres, enquanto também levanta questões sobre as expectativas sociais e o custo emocional de sua luta. Gale Weathers e Sidney Prescott em Scream (1996): Sidney Prescott, vivida por Neve Campbell, e Gale Weathers, interpretada por Courteney Cox, desafiam estereótipos das Final Girls. Sidney enfrenta repetidamente o assassino Ghostface, enquanto Gale critica o papel da mídia no horror. Juntas, elas exploram temas de sobrevivência e rivalidade feminina, oferecendo uma análise mais profunda das dinâmicas femininas em narrativas de terror. No entanto, nem todas as Final Girls têm trajetórias lineares ou positivas. Personagens como Jill Roberts em “Scream 4” subvertem as expectativas ao apresentar reviravoltas inesperadas em sua narrativa, questionando quem realmente pode ser confiável e quem merece ser visto como heroico. Isso leva a uma reflexão sobre a natureza da sobrevivência no gênero: até onde alguém vai para garantir sua própria segurança? Essas personagens não são apenas arquétipos; elas são representações complexas das experiências femininas diante do medo e da opressão. Através delas, os filmes de terror exploram temas como a luta pelo poder, a resistência diante da adversidade e a capacidade das mulheres de moldar seu próprio destino. As Final Girls nos ensinam que, mesmo nas situações mais sombrias, há espaço para coragem e resiliência. Em suma, as Final Girls do cinema não são meras sobreviventes; elas são ícones culturais que desafiam normas sociais e oferecem novas perspectivas sobre o papel das mulheres no cinema e na sociedade. Elas nos lembram que, na luta contra o medo e a violência, cada mulher tem o potencial para se tornar uma heroína em sua própria história. O Projeto A Sala afirma que todos os textos do site são de responsabilidade do próprio autor.
Maurice’s bar (2023)

Críticas Maurice’s bar (2023) Por Ricardo Rodrigues Maurice’s bar é um curta metragem de quinze minutos dirigido por Tom Prezeman e Tzor Edery, adota a técnica de animação quadro a quadro (cerca de 20 frames por segundo. Essa dedução atribuí ao notar que a animação não é extremamente fluída). Com traço volumoso e cheio de detalhes, que possui uma palheta de cor relativamente simples baseada em tons de cinza, preto, branco e vermelho: e as escolhas destas cores é estruturada para causar ao espectador uma sensação de intensidade, sensualidade (com erotismo que é muito presente) e principalmente tensão. A premissa é relativamente simples, mas o roteiro é complexo ao abordar as memórias de um bar QUEER que foi atacado por oficiais nazistas. Além de Maurice, conhecemos outros personagens (que não possuem nome) e somos apresentados à rotina do bar, que rolam flertes, shows de dança e performances, além de conversas descontraídas sobre a comunidade ao todo. Maurice é uma pessoa transgressora, havia tatuagens, era judeu e homossexual. Em1909 teve o bar atacado por fascistas que queriam repreender toda “degeneração” que o Bar representava, algo que infelizmente vemos nos tempos atuais. É importante que essas histórias sejam contadas, conhecer o passado para compreender o presente na intenção de que esses atos não sejam cometidos. Até hoje, o maior ato de rebeldia é a resistência nua e crua de uma comunidade que é o alvo da intolerância… Por alguma razão, o curta metragem me lembrou o ocorrido no “Ferro’s bar” aqui no Brasil no contexto da ditadura militar ocorrido em 1964-1985, o futuro repete o passado seja na França ou no Brasil. Maurice’s bar está disponível na Mubi, se quiser assistir vale muito a pena! O Projeto A Sala afirma que todos os textos do site são de responsabilidade do próprio autor.
A Morte lhe Cai bem

Críticas A Morte Lhe Cai Bem Por Danielle Delaneli “A Morte Lhe Cai Bem” é uma comédia satírica que explora a obsessão contemporânea pela juventude e a rivalidade feminina de forma hilariante e provocativa. Dirigido por Robert Zemeckis, o filme traz Meryl Streep como Madeline, uma atriz envelhecida e egocêntrica, e Goldie Hawn como Helen, sua antiga amiga e rival. Ambas competem pelo amor de Ernest (Bruce Willis), um médico que se vê no meio dessa disputa. A rivalidade entre Madeline e Helen é emblemática do que muitas mulheres enfrentam: a pressão para serem vistas como jovens e atraentes. O filme utiliza essa competição para criticar os padrões de beleza impostos pela sociedade, mostrando como essas expectativas podem levar as mulheres a ações desesperadas e até mesmo perigosas. Quando as duas descobrem um elixir que promete a imortalidade, a história ganha contornos absurdos, refletindo sobre as consequências da busca insaciável pela perfeição. O humor grotesco se torna um veículo para discutir questões sérias sobre a identidade feminina. À medida que Madeline e Helen se tornam cada vez mais obcecadas por suas aparências, o filme revela a futilidade dessa busca. A rivalidade delas evolui para uma batalha cômica que questiona o que significa realmente viver e envelhecer. Além disso, “A Morte Lhe Cai Bem” destaca como a amizade feminina pode ser prejudicada por inseguranças e competitividade. No final, o filme não apenas diverte, mas também provoca reflexões sobre a natureza da beleza, da amizade e das expectativas sociais colocadas sobre as mulheres. É uma obra que permanece relevante, convidando o público a rir enquanto reflete sobre suas próprias percepções de envelhecimento e valor pessoal. O Projeto A Sala afirma que todos os textos do site são de responsabilidade do próprio autor.
Zorra Total

E se o programa fosse exibido em 2025? Zorra Total foi um seriado exibido na emissora Globo entre 99 e durou até os anos de 2015…
Tapas e Beijos

Tapas e beijos foi um seriado brasileiro que durou de 2011 a 2015, contando com um elenco de peso (Fernanda Torres…
O Desafio das Mulheres Diretoras no Oscar

Historicamente, as mulheres enfrentaram barreiras significativas para serem reconhecidas em papéis de liderança dentro da indústria cinematográfica.
Feliz ano novo cinéfilo!

Críticas Feliz ano novo cinéfilo! Por Larissa Blanco O Oscar já passou, fizemos história, ainda existem algumas discussões em volta de algumas vitórias mas até aí, não é nada de novo, sempre haverão diferentes níveis de descontentamento e comemoração numa premiação como essa. Mas agora finalmente podemos deixar os filmes de 2024 no passado (particularmente eu não aguento mais falar dos filmes dessa temporada de premiação kk) e olhar para o calendário de lançamentos de 2025. Por isso, hoje trago aqui alguns títulos para ficarmos de olho, que tem lançamento previsto para esse ano, e que até mesmo podem ganhar força na próxima temporada de premiações (e consequentemente serem lançados apenas em 2026 no Brasil……enfim, vamos acompanhar). Mickey 17, dirigido por Bong Joon Ho Esse filme está há pelo menos uns dois anos tendo lançamento adiado, sendo jogado de lá pra cá, mas finalmente ele está entre nós! Chega hoje (quinta. 06/03) aos cinemas brasileiros o primeiro trabalho do diretor desde o premiadíssimo “Parasita”, e eu estou bem ansiosa para conferir se a espera valeu a pena. No elenco temos Robert Pattison como o protagonista, um trabalhador descartável enviado numa missão de colonização que tem suas memórias transferidas para um clone dele mesmo a cada vez que ele morre, e partindo do número no título, parece que esse processo acontece bastante. Essa premissa já é absurda, as impressões iniciais estão positivas, e eu confio no diretor para ter boas expectativas. Blue Moon, de Richard Linklater Não sei se dá para categorizar esse filme como biografia, mas o que se sabe até agora é que ele acompanha o premiado compositor Lorenz Hart num período complicado da vida, às vésperas da estreia do musical “Oklahoma!””. No elenco estão nomes como Ethan Hawke, Margaret Qualley e Andrew Scott. O filme já passou pelo festival de Berlin, onde Andrew Scott venceu o Urso de Prata de ator coadjuvante. Frankenstein, de Guillermo del Toro Uma nova adaptação do horror gótico da Mary Shelley vem aí! E nas mãos de um dos meus diretores favoritos! Estou bem curiosa sobre qual será a abordagem do del Toro a essa história que é tão presente no nosso imaginário coletivo e tão diferente do material base. O elenco conta com Mia Goth, Jacob Elordi, Christoph Waltz e Oscar Isaac, e o lançamento está marcado para o fim do ano. The Bride! de Maggie Gyllenhaal Também marcado para o fim do ano, e com temática mais ou menos parecida, temos o novo filme da Maggie Gyllenhaal, que teve sua estreia na direção alguns anos atrás com o belo “A filha perdida”. As poucas descrições do filme dizem ser um romance com suspense policial, temperado com as mudanças sociais dos anos 30. Temos um elenco de peso, como Christian Bale, Jessie Buckley, Peter Sarsgaard, Penélope Cruz, Jake Gyllenhaal, e outros. Estou muito curiosa para a visão feminina dessa história que, vamos lembrar, originalmente foi escrita por uma mulher. O agente secreto, de Kléber Mendonça Filho Com Wagner Moura como protagonista, o filme se passa em Recife na década de 70, um período turbulento para o Brasil e para o mundo também, acompanhando um personagem com um passado violento. Pouco se sabe ainda, mas expectativas estão sendo criadas, principalmente por esse momento maravilhoso que o cinema nacional vem vivendo. O filme não tem data de estreia ainda, mas tem gente que aposta nele na seleção de Cannes deste ano. Hamnet, de Chloe Zhao Não sei quantos de vocês acompanham as bookredes, mas quando Hamnet da Maggie O’Farrell foi publicado gerou toda uma comoção, só li elogios a obra. Nela acompanhamos Shakespeare enquanto escreve Hamlet, durante o período de luto pela morte precoce de seu filho e sua relação com as mulheres de sua vida. Vai ser adaptado pela Chloe Zhao (vencedora do Oscar por Nomadland) e conta com Paul Mescal, Jessie Buckley e Joe Alwyn no elenco. Ainda não tem data de lançamento. O Projeto A Sala afirma que todos os textos do site são de responsabilidade do próprio autor.
Orfeu Negro

Críticas Orfeu Negro: Entre a Beleza do Carnaval e as Sombras da Representação Por Danielle Delaneli Dirigido por Marcel Camus e lançado em 1959, Orfeu Negro é um filme que se destaca não apenas por sua estética vibrante e sua trilha sonora envolvente, mas também por suas complexas representações culturais e sociais. Adaptado da peça “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes, o filme transporta a história clássica de Orfeu e Eurídice para o contexto do Carnaval carioca, oferecendo uma nova perspectiva sobre amor, perda e a luta entre a vida e a morte. Um dos aspectos mais notáveis da obra é sua cinematografia. Camus utiliza cores vivas e uma direção de arte exuberante para capturar a essência do Rio de Janeiro durante o Carnaval. As cenas de dança e música são coreografadas de forma a criar uma atmosfera quase mágica, que transporta o espectador para o coração da cultura brasileira. A trilha sonora, que combina bossa nova e samba, não apenas complementa a narrativa, mas também se torna um personagem à parte, imortalizando o filme na história do cinema. Orfeu Negro não só encantou o público com sua estética, mas também se tornou um marco para o cinema mundial ao trazer a cultura brasileira para os holofotes internacionais. A obra explora a dualidade entre a alegria do Carnaval e a tragédia da história de amor entre Orfeu e Eurídice, refletindo a complexidade das emoções humanas. A narrativa é permeada por elementos mitológicos e folclóricos, que se entrelaçam com a realidade social do Brasil da época, criando um rico tapeçário de significados. A atuação dos protagonistas, Breno Mello como Orfeu e Marpessa Dawn como Eurídice, é outro aspecto que merece destaque. A química entre os dois personagens traz uma profundidade emocional à história, permitindo que o público se conecte com suas lutas e desejos. Mello encarna um Orfeu apaixonado e atormentado, enquanto Dawn traz uma fragilidade e força à sua Eurídice, simbolizando o amor que transcende as barreiras da vida e da morte. Por outro lado, é importante ressaltar que “Orfeu Negro” também pode ser visto como um reflexo das tensões sociais da época em que foi feito. O filme foi lançado em um período de grandes mudanças no Brasil, marcado por questões de classe, raça e identidade cultural. A forma como Camus retrata essas questões, embora poética, pode ser interpretada como uma forma de escapismo que não aborda as realidades duras enfrentadas pela população negra nas favelas cariocas. Além disso, apesar de sua beleza estética, o filme também suscita críticas em relação à sua representação da cultura afro-brasileira. O filme, embora tenha sido aclamado internacionalmente e ganhado o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é frequentemente criticado por sua abordagem romantizada e estereotipada da vida nas favelas. A narrativa, centrada em personagens que enfrentam desafios sociais, pode ser vista como uma simplificação das complexas realidades enfrentadas pelas comunidades afro-brasileiras. A figura de Orfeu, um herói trágico, é muitas vezes interpretada como uma representação do “homem negro” que, apesar de suas lutas, é elevado a um status quase mítico, o que pode obscurecer as questões sociais reais que permeiam sua existência. Além disso, a escolha de um diretor francês para contar uma história profundamente enraizada na cultura brasileira levanta questões sobre apropriação cultural. A visão de Camus, embora rica em estética, pode não capturar completamente as nuances e as lutas da população que ele retrata. Isso gera um debate sobre quem tem o direito de contar certas histórias e como essas narrativas são moldadas por perspectivas externas. Orfeu Negro é uma obra-prima do cinema que combina beleza visual e musical com uma narrativa trágica. No entanto, é crucial abordar suas limitações e as críticas que surgem em relação à representação cultural. O filme serve como um ponto de partida para discussões mais amplas sobre identidade, apropriação e a complexidade das experiências afro-brasileiras. Ao celebrarmos sua contribuição ao cinema, também devemos reconhecer a necessidade de uma representação mais autêntica e multifacetada das vozes que ele busca retratar. Finalmente, Orfeu Negro permanece uma obra relevante que provoca reflexão sobre a representação no cinema e a responsabilidade dos cineastas em contar histórias de maneira sensível e autêntica. Ao revisitar este clássico, somos lembrados da importância de ouvir as vozes daqueles que realmente vivem as experiências retratadas nas telas. Assim, o filme não apenas celebra a cultura brasileira, mas também nos convida a pensar criticamente sobre as narrativas que escolhemos contar e compartilhar. O Projeto A Sala afirma que todos os textos do site são de responsabilidade do próprio autor.