O diretor cearense Karim Ainouz, conhecido por filmes como Motel Destino e Madame Satã, faz sua estreia em um longa 100% em inglês com O Jogo da Rainha, um thriller psicológico baseado na vida de Catherine Parr, a última esposa de Henrique VIII. O filme, que chamou a atenção por sua indicação à Palma de Ouro no Festival de Cannes, oferece uma visão única e intimista da corte inglesa, especialmente do turbulento casamento entre Catherine e o monarca.
A história gira em torno de Catherine Parr, a única esposa de Henrique VIII que conseguiu escapar do exílio e da execução, uma figura histórica que, embora tenha sido central na vida do rei, é menos conhecida do grande público. Baseado no livro O Jogo da Rainha, o filme mergulha nas complexidades emocionais e políticas da relação do casal, apresentando uma perspectiva claustrofóbica e intimista da corte inglesa.
O destaque da produção fica por conta da atuação de Jude Law, que interpreta Henrique VIII em seus últimos anos de vida. O personagem, já debilitado pela obesidade e problemas de saúde, é um retrato assustador da decadência do monarca, e Law surpreende com uma performance irreconhecível. Ao lado dele, Alicia Vikander assume o papel de Catherine Parr, oferecendo uma boa atuação, embora a personagem de Catherine tenha menos espaço de destaque comparado à presença de Henrique.
A direção de arte e a fotografia são impecáveis, criando uma atmosfera tensa e sombria que permeia todo o filme. No entanto, o enredo, embora interessante, acaba sendo apressado, oferecendo apenas um vislumbre da figura histórica de Catherine Parr. O ritmo, no entanto, é onde o filme realmente se destaca. Karim Ainouz, com sua abordagem única, cria uma dinâmica que mantém o espectador preso às duas horas de projeção, aproveitando o contraste entre a opressiva frieza do cenário e uma sensação de tensão crescente.
A cinematografia de O Jogo da Rainha se distingue pelas cores ricas e pelas imagens recortadas, com planos inquietantes dos rostos das personagens que transmitem uma sensação de urgência e confusão emocional. Mesmo ambientado em um período histórico frio e acinzentado, o filme consegue infundir calor e intensidade na narrativa, graças à direção de Ainouz. Sua capacidade de transformar um filme de época em algo visceral e intimista é impressionante, e deixa no espectador a vontade de ver mais produções históricas sob sua lente única.
Embora o enredo não impressione tanto quanto sua execução visual e emocional, O Jogo da Rainha é um filme que faz jus ao talento de Karim Ainouz e à sua habilidade de transformar histórias de época em experiências cinematográficas intensas e emocionantes. Para quem procura um thriller psicológico que vai além dos limites do gênero, este filme é uma experiência imperdível.